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Breve introdução que você pode pular se já souber:

A espondiloartrite axial é uma doença reumática crônica que causa dor e danos intensos, principalmente na coluna vertebral e na articulação sacroilíaca (SI), onde o quadril e a coluna se conectam.

O sintoma precoce mais comum da espondilite axial é a dor lombar crônica que começa antes dos 45 anos, e essa dor nas costas é sempre de natureza inflamatória, ou melhor, auto inflamatória. Ao contrário da dor nas costas mecânica que é causada por lesões ou tensões muscular, a dor inflamatória nas costas melhora com a atividade física e piora com o repouso. Cerca de 70% a 80% das pessoas com espondiloartrite axial experimentam dor inflamatória crônica nas costas (Khmelinskii e Regel, 2018). Essa dor geralmente envolve a articulação sacroilíaca, um sintoma que é considerado a marca registrada da doença.

Diagnosticar a espondiloartrite axial é quase sempre um desafio. Isso porque a forma inicial da doença é “invisível”, o que significa que não aparece nos raios-X. Isso pode levar a um atraso no diagnóstico e tratamento, bem como a resultados piores (Deodhar, 2020).

Por que a espondiloartrite axial é difícil de detectar?

Precisamos saber que existem dois tipos de espondiloartrite axial:

  • Espondiloartrite axial radiográfica (EA-ax-r), com sintomas e danos visíveis nas radiografias, e a
  • Espondiloartrite axial não radiográfica (EA-ax-nr), com sintomas e sem danos visíveis nas radiografias.

A espondiloartrite axial radiográfica (EA-ax-r), antigamente conhecida por espondilite anquilosante (EA), é a forma mais agressiva da doença. É causada pelo crescimento de “novos ossos” na coluna e nas articulações sacroilíacas que podem levar a vértebras fundidas, dor e imobilidade. Como esse dano é significativamente grande, esse dano articular pode ser observado em raios-X ou em tomografia computadorizada (TC).

A espondiloartrite axial não radiográfica (EA-ax-nr), por outro lado, refere-se à doença que começa com a inflamação nas articulações sacroilíacas. O raio-X e a tomografia computadorizada não são sensíveis o suficiente para detectar a inflamação e o “inchaço” das articulações, tornando a espondiloartrite axial não radiográfica mais difícil de ser diagnosticada pelos reumatologistas. No entanto, a inflamação articular pode ser visível na ressonância magnética (RM).

Estudos indicam que pode levar de seis a 10 anos para que a inflamação, se não tratada, crie danos suficientes para se tornar visível nos raios-X. Nesse momento, a espondiloartrite axial não radiográfica pode, as vezes, progredir para a espondiloartrite axial radiográfica, com destruição e fusão óssea significativas (Deodhar, 2018).

O que os raios-X não revelam

Os critérios diagnósticos desenvolvidos em 1984 basearam-se em raios-X para detectar alterações estruturais na coluna vertebral e nas articulações sacroilíacas. As radiografias podem descrever a erosão óssea e qualquer novo crescimento ósseo causado por inflamação crônica, o que é a principal característica da espondiloartrite axial (Dubreuil e Deodhar, 2017). E os raios-X são normalmente usados para avaliar pessoas que tiveram dor nas costas por mais de três meses. (Taurog, et al., 2016).

No entanto, os raios-X têm deficiências. Nos estágios iniciais da espondiloartrite axial, os raios-X não conseguem detectar inflamação nas articulações, nem distinguir entre dor lombar crônica inespecífica e dor inflamatória nas costas (Lukas, et al., 2018).

Mesmo quando os raios-X não mostram alterações ou fusões ósseas, ainda é possível sentir dor intensa. Na verdade, a espondiloartrite axial não radiográfica pode ser tão dolorosa e debilitante quanto a espondiloartrite axial radiográfica (Deodhar, 2020). Por esse motivo, muitas pessoas com espondiloartrite axial “invisível” sofrem desnecessariamente por muitos anos antes de obter um diagnóstico adequado. Assim, a ressonância magnética (RM) é agora considerada o método de imagem de escolha para o diagnóstico de espondiloartrite axial (Dubreuil e Deodhar, 2017).

E o que a ressonância magnética também pode deixar passar

A ressonância magnética aumenta a precisão diagnóstica. Ele detecta inflamação ativa e alterações estruturais em pessoas com sintomas de espondiloartrite axial, mesmo quando as articulações parecem normais nas radiografias. A ressonância magnética também fornece menos exposição à radiação do que os raios-X (Taurog, et al., 2016).

Considerada com  o principal biomarcador de imagem da espondiloartrite axial, a sacroiliite é visível na ressonância magnética (RM) antes que o dano estrutural radiográfico apareça. Isso fornece uma “janela” que oportuniza o tratamento precoce que pode melhorar o resultado a longo prazo (Laliberte, 2019).

Mas os exames de ressonância magnética também têm desvantagens. Embora a ressonância magnética possa detectar inflamação nas articulações, os exames não são muito específicos. O inchaço e outras alterações inflamatórias podem ser causados por desgaste ou envelhecimento, por exemplo, não por espondiloartrite axial não radiográfica (Deodhar, 2020).

Estudos também mostram que pode levar mais de um ano para que o “inchaço” seja visível em uma ressonância magnética. E os exames podem dar uma sugestão negativas mesmo em pessoas com espondiloartrite axial, isso irá exigir uma série de acompanhamentos futuros de exames de ressonância magnética que são sempre caros (Laliberte, 2019).

As ressonâncias magnéticas podem monitorar a progressão da espondiloartrite axial ao longo do tempo, e podem mostrar uma progressão de não radiográfica para radiográfica. Mas, às vezes, a doença nunca progride. Um estudo de 12 anos descobriu que até 25% das pessoas com dor de espondiloartrite axial não mostraram progressão nos estudos de imagem (Robinson, et al., 2019).

Por esse motivo, os reumatologistas agora analisam todo o quadro clínico ao diagnosticar espondiloartrite axial – incluindo sintomas, histórico médico familiar, exame físico, exames de sangue e exames de imagem (Laliberte, 2019).

Referências:

Deodhar, A., Axial Spondyloarthritis Defined. Disponível em: https://www.ajmc.com/view/axial-spondyloarthritis-defined, dezembro de 2018, acesso em setembro de 2024.

Deodhar, A., What is No-Radiographic Axial Spondyloarthritis? Disponível em: https://spondylitis.org/wp-content/uploads/2020/02/Atul_Deodhar_axSpA.pdf, publicado em 2020 com acesso em setembro de 2024.

Dubreuil M, Deodhar AA. Axial spondyloarthritis classification criteria: the debate continues. Curr Opin Rheumatol. 2017 Jul;29(4):317-322. doi: 10.1097/BOR.0000000000000402. PMID: 28376062; PMCID: PMC5810943.

Joel D. Taurog, M.D., Avneesh Chhabra, M.D., and Robert A. Colbert, M.D., Ph.D.N Engl J Med 2016; 374:2563-2574June 30, 2016DOI: 10.1056/NEJMra1406182 

Khmelinskii N, Regel A, Baraliakos X. The Role of Imaging in Diagnosing Axial Spondyloarthritis. Front Med (Lausanne). 2018 Apr 17;5:106. doi:10.3389/fmed.2018.00106.

Laliberte, M., Non-Radiographic Axial Spondyloarthritis: What Is It, and How Is It Treated?  Disponível em: https://creakyjoints.org/education/what-is-non-radiographic-axial-spondyloarthritis/ Publicado em 2019 com acesso em setembro de 2024.

Lukas C, Cyteval C, Dougados M, Weber U. MRI for diagnosis of axial spondyloarthritis: major advance with critical limitations ‘Not everything that glisters is gold (standard)’. RMD Open. 2018 Jan 12;4(1):e000586. doi: 10.1136/rmdopen-2017-000586. PMID: 29479474; PMCID: PMC5822619.

Robinson, P.C., Sengupta, R. & Siebert, S. Non-Radiographic Axial Spondyloarthritis (nr-axSpA): Advances in Classification, Imaging and Therapy. Rheumatol Ther 6, 165–177 (2019). https://doi.org/10.1007/s40744-019-0146-6.